quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

CANTAR É BOM


O QUE EU VOU FAZER AMANHÃ?

Estudar.
Comprar um caderno de desenho.
Fazer uma cartinha para uma amiga que faz aniversário na quinta-feira.
Lembrar de arrumar a cama de manhã.
Limpar meu tênis.
Jogar no lixo todas as porcarias que estão dentro da minha mochila.
Dar um abraço no meu irmãozinho do meio.
Fazer uma poesia para a Lili, começando assim:

Lili, seus lindos cabelos 
brilham macios, sedosos, 
tão negros que eles são...  


OS ANIMAIS NÃO SÃO IGUAIS, MAS SÃO TODOS IMPORTANTES



Deus fez alguns animais diferentes dos outros.
O peixe tem escamas e vive na água; sua carne é saudável.
O pato tem penas e sabe nadar; coloca ovos, como as galinhas.
O cavalo tem pelos e serve para montaria; tem um porte excelente.
A vaca tem pelos, dá leite e carne.
Como se vê, todos os animais são úteis uns para os outros.
Já ouviu falar em cadeia alimentar?
Pois então.
Mas tem um animal que comete muitos erros, que tem tanta ganância, que desacredita em Deus quando tem qualquer aperto na vida, que destrói uma família por qualquer vingança, que acha que é proprietário de outro ser como ele, que não educa seus filhos, que não sabe amar...
Quem?
Os seres humanos, principalmente os homens.
Muitos deles não prestam para nada.
Uma pena!

Texto de Luiza Válio.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

O VALE DOS CAVALOS AZUIS



Era um lugar mágico.
Você já viu ou já esteve nalgum lugar mágico?
Mas não precisa estar; só precisa imaginar-se lá.
Pois lá havia um grupo de índios que morava numa caverna e criava cavalos azuis.
Na língua nativa, os selvagens mal sabiam explicar de onde conseguiram trazer a matriz já prenhe para a sua taba.
E começaram a nascer os potrinhos cada vez mais azuis. De um tom tão lindo que nem a noite conseguia sonegar.
Embora lindos e diferentes, eram tão dóceis e tão facilmente domesticáveis que até a linda índia Guimá, filha do cacique Gurum, com pouco mais de uma dezena de anos de idade, já sabia montar neles.
De repente, a fama dos cavalos azuis rompeu campos, correu vales, sobrevoou montanhas e deve ter chegado também numa aldeia esquisita, a aldeia dos homens sem alma.
Esses homens sem alma não gostavam de rir. 
Suas crianças não brincavam.
Os homens adultos morriam logo.
Muitas mulheres foram ficando sozinhas.
Pois aconteceu que, certo dia, Guimá se perdeu numa floresta. Com a tempestade que se avizinhava, o cavalo azul que a acompanhava assustou-se, e, desembestado, pôs- se a correr de volta para a aldeia, derrubando a menina ao chão.
Foi encontrada desacordada por um rapaz da aldeia dos homens sem alma.
Quando acordou, Guimá soltou um grito:
- Onde estou? Quem é você?
- Sou Iné, da aldeia que manda nestas terras. Vá embora daqui. Se meu pai, o cacique Lugim, encontrar você, teremos um belo jantar.
- Vocês comem carne de índio?
- De índio e de tudo que é bicho bom.
- Por que?
- Porque a gente quer aprender a ser diferente. A nossa raça está desaparecendo. Muita doença. Tem morte todo dia. Não nasce mais nenhuma criança. O feiticeiro que disse que a solução vai vir se a gente comer bicho bom e índio de raça boa e até ele morreu.  
Guimá pensou e pensou e disse:
- Vamos embora comigo, então?
- Não posso. Meu pai me encontra e me manda pro inferno.
- Então acho bom me levar até ele, porque não sei como que eu vou achar o caminho de volta pra minha aldeia.
E a menina foi posta em frente ao cacique Lugim, um homem de aparência tão má que ela esquivou-se, apavorada.
Lugim foi rodeando e cheirando a indiazinha, cada vez mais enfurecido. 
Era uma intrusa e isso não estava cheirando bem. Vai que algum grupo de caçadores de índios estava espreitando a aldeia e a menina servia só como "isca" para a caçada...
Iné chegou e perguntou:
- Meu pai, ponho a água a ferver?
- Não. Vamos barganhar.
E virando-se para a menina, perguntou:
- Onde está sua aldeia? Tem animal lá? Se me derem dez cavalos, sua vida está salva.
A menina explicou mais ou menos o que sabia sobre a sua aldeia e partiram quando a lua estava alta no céu.
Seis luas, oito luas, treze luas se passaram. 
De repente, umas luzes azuis começaram a aparecer na escuridão das noites e finalmente chegaram ao vale dos cavalos azuis. 
O cacique Gurum sentiu que a filha chegava e pôs-se a caminhar ao seu encontro, sem pressentir  nenhum perigo.
Um abraço longo, a alegria renascendo nos olhos do homem sofrido, a mãe que chega rindo e agradecendo aos céus, a aldeia toda preparando-se para uma bela festa.
"Que alegria é essa?" - pensava o outro cacique.
E veio a conversa e veio a barganha e os dez cavalos azuis foram embora dali de modo bem ligeiros. Para serem devorados pelos habitantes da aldeia dos homens sem alma.
Os tempos passaram.
Veio seca. Veio chuva. Veio dor e veio crescimento. 
Também Guimá sofreu muitas perdas: o pai e o irmão mais novo. E veio a hora de ter que procurar por um marido. Na aldeia, muitos rapazes se interessavam por ela, mas na cabeça dela a imagem de Iné mais e mais se fortalecia.
Mas ficou sabendo por um visitante morador das proximidades que a aldeia dos homens sem alma não existia mais.
O coração apertou-se quando ouviu aquilo, mas quedou-se, pois não valia mais a pena esperar por ele.
Foi na Festa de Pajé Maluco, evento que acontecia na chegada da primavera, que Guimá decidiu namorar o primeiro rapaz que aparecesse em seu caminho, quando a lua fosse alta lá no céu.
E quando a lua começou a brilhar mais intensamente, Guimá fechou os olhos a fim de saborear aquele momento maravilhoso e, de repente, ao abri-los, notou que um homem se aproximara trazendo consigo uma fileira de cavalos azuis:
- Vim devolver seus cavalos. Deve ter mais de três dezenas agora.
- Vocês não comeram os animais?
- Não precisamos fazer isso. Só de olhar para eles, tudo na aldeia se modificou. Agora somos os homens da aldeia feliz.
- Ah, aqueles que moram no vale das pedras preciosas! Já ouvi falar de vocês. E então? Deixe os cavalos por aí e vamos festejar nosso reencontro, Iné.
E foram de mãos dadas para o que o destino lhes reservasse a partir daquele momento.

História de Luiza Válio.