sábado, 28 de junho de 2014

O SONHO DE UM AVÔ QUE JÁ FOI MENINO



Não que fosse rico, mas o filho teria que ter uma festa de aniversário das melhores da sua vida.
Afinal, faria oito anos.
Idade de sonhos os mais extravagantes.
E os colegas de escola?
Sempre afoitos por novidades, eles querem saber tudo um do outro, da família do outro, de como é a casa do outro, de como está a geladeira da casa do outro, de como são os móveis da casa do outro, dos aparelhos eletrônicos...
A festa custaria os olhos da cara, mas o filho teria aquela festa.
Ah, sim, com direito a carrinho de pipocas, piscina, churrasqueira soltando brasa, doces e salgadinhos dos mais deliciosos.
Espaço ali havia até de sobra.
O sítio onde se localizava a residência da família, presente de casamento dos pais, era imenso, cheio de grandes e frondosas árvores, com regatos mansos, pomar e gramado bem verde naquela época do ano.
Mas como faria o tal aniversário?
De onde o dinheiro?
Como?
Tão pensativo estava, que não ouviu quando o celular tocou. Aí, passados alguns minutos, vem correndo a mulher ao seu encontro:
- Querido, sua mãe ao telefone.
Num gesto mecânico, pôs o fone no ouvido:
- Filho, seu pai está muito mal. Está na UTI. Se puder, venha para cá; sua irmã está comigo.
Mas como? Como dizer para a mãe que não tinha condição econômica para viajar naquele momento, quiçá jamais?
Baixou a cabeça e fez uma prece ao pai distante.
No dia seguinte, o pai falecera e o homem não foi também ao enterro, apenas chorou amargamente o triste destino.
Uma semana se passou.
E o aniversário do filho na cabeça...
Por sorte, conseguiu empréstimo na empresa onde trabalhava, num dia em que o chefe estava de bom humor; imediatamente, passou o valor para que a esposa providenciasse a festa para uns trinta e poucos convidados, os coleguinhas do menino.
Ao final das compras, viu horrorizado que não sobrara nenhum tostão para comprar o presente.
Que diriam os meninos?
- Ah, pai, não se preocupe, não. Eu invento uma desculpa para eles.
E afinal chegou o tão sonhado dia.
O salão ficou repleto. Diversões à beça. Muita guloseima. Nenhum presente. Nem dos colegas e nem do papai.
- E aí, amigão? Que chato não receber presente!
Nisso, a campainha tocou.
O homem foi para lá:
- Mamãe! 
Abraços e pranto velado para não estragar a festinha.
- Cadê meu neto? Preciso conhecer meu neto. Você tem sido muito mau. Onde já se viu avó não conhecer o neto que tem?
E o menino veio, feliz:
- Vovó! Você é o maior presente que eu queria ganhar hoje!
- Eu também te amo, filhinho! Mas o teu presente está lá fora; aliás, presente deixado pelo teu avô que cuidou sozinho dele e aprendeu até como fazer para deixá-lo sempre colorido e brilhoso.
E então todos foram para fora.
De repente, alguém abriu a carroceria de um grande caminhão estacionado no jardim e de lá saiu, garboso e brilhoso... um lindo cavalinho verde.
Não dá para imaginar a alegria do menino, dá?
Claro que não!
E foi o melhor aniversário que o menino já teve e seus colegas por muito e muito tempo teriam sobre o que fofocar na escola e fora dela.

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